A clínica de hemodiálise de Codó foi inaugurada dia 14 de fevereiro do ano passado, atende hoje 76 pacientes renais crônicos, mas resolveu agora dispensar 18 deles alegando, no comunicado entregue à cada um, falta de recursos para cobrir as 3 sessões semanais .
William Soares Santos, paciente já com documento de exclusão, explicou-nos que a carta de ‘descontinuidade’ do tratamento é endereçada à Secretaria Municipal de Saúde, o que seria, na opinião dos dispensados, uma forma da clínica eximir-se da responsabilidade de arranjar um novo local.
“Pra o secretário de saúde procurar vaga, é uma coisa assim que é estritamente responsabilidade da clínica, independente da gente saísse ou não quem tinha que fazer isso era a clínica e não o secretário de saúde do município, nem prefeitura, nem nada…DAÍ A NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO DO MUNICÍPIO? Sim, quem nos assiste é ele, então procuramos nossos direitos aqui”, respondeu
NO MINISTÉRIO PÚBLICO
Sem qualquer garantia de que terão atendimento numa outra clínica, como a de Caxias, por exemplo, de onde já veio grande parte dos que não terão mais atendimento em Codó, os pacientes resolveram procurar o Ministério Público Estadual e fizeram isso na última sexta-feira, pela manhã, dia 9 de março.
Há uma urgência porque o comunicado diz que eles só serão atendidos em Codó até o dia 2 de abril.
SE PREPARANDO PARA MORRER
Sem o tratamento seu José Ribamar de Sousa disse que já se prepara para a morte.
“Você tem que saber que vai a morrer logo, não escapa, quando eu faço, porque é um dia outro não, quando é domingo, que eu faço sexta que é pra fazer segunda eu já passo mal…ISSO COM A CERTEZA DE QUE VAI FAZER? Imagine sem fazer, já passo a noite sentado na rede, da cama pra rede aquela agonia, faltando fôlego”, lamentou dentro do prédio do MP enquanto aguardava para assinar uma ficha de sua denúncia.
Maria Coqueiro de Sousa foi ao Ministério Público porque a mãe dela, uma idosa, não resistirá à uma viagem para outro município se a decisão for mantida e ela explicou o motivo.
“Se sair daqui pra outro lugar mais longe, com certeza ela não vai aguentar ela vai acabar morrendo (…) então não tem como ela sair daqui e ir pra Caxias SENDO QUE TEM Uma clínica em Codó ….QUAL É O ULTIMATO? Até o dia 2 de abril…E DEPOIS? Aí ela vai acabar morrendo porque não tem lugar pra ir, e de ter lugar tem mas a gente tem que fazer aqui, ela fazer aqui em Codó”, frisou
REUNIÃO NESTA SEGUNDA-FEIRA
No Ministério Público oficializaram a denúncia e a imprensa foi informada de que nesta segunda-feira, 12, à tarde a promotora vai se reunir com o secretário municipal de saúde, Suelson Sales, para tentar uma solução administrativa para o problema que também envolve o governo do Estado que teria prometido repassar à clínica a verba correspondente ao aumento do número de pacientes – exatamente os 18 que agora estão temendo a morte.
“Morte, porque se a gente passa 3 dias sem diálise, eu, praticamente, ganho quantia de preço, vomitando, passando mal, pressão sobe, fico tonto, minha visão embaça, é o fim, sem a máquina é o fim, aquilo é como se fosse o rim , sem aquilo ali a pessoa não vive”, afirmou Willian Soares Santos
OUVINDO OS ENVOLVIDOS
A assistente administrativo da NEFROCLÍNICA, Diana de Sousa, informou que desde outubro do ano passado os proprietários da clínica, que é particular, estão bancando, do próprio bolso, o atendimento de 18 pacientes, o que torna a continuidade da prestação do serviço inviável.
O custo dos atuais 76 pacientes hoje está em torno de R$ 203.000,00, enquanto a clínica só vem recebendo algo em torno de R$ 167.000,00 (valor do último repasse do Governo Federal). A decisão da direção de diminuir o número de pacientes está mantida por conta disso.
A secretaria de Saúde de Codó, informou que o município apenas recebe a verba, que é federal, e repassa à clínica mediante comprovação de prestação do serviço de hemodiálise. O último pagamento foi de R$ 167.000,00.
O secretário Suelson Sales disse que a clínica, mesmo na situação que alega, não poderá deixar os pacientes sem hemodiálise. Informou ainda que pediu uma reunião com a promotora da Saúde, Linda Luz Matos Carvalho, nesta segunda-feira, 12, para ver se encontra uma solução urgente para o caso.
A Secretaria de Estado da Saúde também deverá ser provocada pelo Ministério Público porque há a informação, confirmada pela secretaria municipal e pela clínica à nossa reportagem, de que Carlos Lula teria autorizado o aumento da demanda. Há um termo de compromisso assinado sobre isso.
Comprou-se mais equipamentos, passou-se a aceitar mais pacientes, além dos 58 iniciais, e depois disso a secretaria estadual não cumpriu com a promessa de cobrir o custo excedente.
3 PODEM RESOLVER
Há três soluções urgentes possíveis para o impasse – o município de Codó cobre com verba própria o excedente, o governo de Flávio Dino cumpre o que prometeu à direção da clínica ou, este mais complexo, o Ministério da Saúde libera de vez o aporte financeiro para mais 21 pacientes, pedido que já foi feito há muito tempo ao Governo Federal, documentalmente comprovado, e nunca foi concedido.
Se nenhuma solução aparecer – estes três entes federativos, por meio de seus representantes, matarão 18 codoenses no mês de abril, debaixo das barbas do Ministério Público.
Fonte: Acelio trindade.